O bailarino que revela que já alisou o cabelo para se sentir aceito no balé, celebra seu novo personagem com visual de tranças
Ao falarmos em balé, uma das principais referências no mundo é o bailarino carioca Jonathan Batista, 31 anos, que foi nascido e criado na Cidade de Deus no Rio e agora alcança projeção mundial após ser promovido o primeiro bailarino negro principal da Cia "Pacific Northwest Ballet" em 50 anos de Cia. A grande novidade é que, a mudança de Jonathan no visual, é para protagonizar o clássico de Shakespeare.
"Será um grande sonho realizar o papel de Oberon na obra de Shakespeare, idealizado e coreografado pelo coreógrafo russo e americano George Balanchine, o Pai do estilo e balé americano.
A representatividade de bailarinos negros/pretos em obras de Shakespeare continua sendo mínima, sendo ela em obras históricas como Romeo e Julieta, Sonho de uma Noite de Verão, ou até mesmo Hamlet.
Ainda nos tempos atuais, encontramos uma resistência com obras históricas, onde muitos líderes da dança não nos veem adequado para estes papéis.
Nesta obra, 'Sonho de uma Noite de Verão, eu quero incorporar a trança no meu cabelo, levar comigo toda a representação de quem eu sou, o cabelo faz parte do corpo negro, e é uma pauta que temos de levantar, pois ainda nao é algo bem visto no mundo do balé clássico.
Lembro-me quando mais jovem, chegando a escola de ballet e sendo chamado a atenção, e impedido de fazer parte do ensaio fotográfico de um balé no qual eu faria o papel principal. A partir daquele momento, eu comecei a utilizar de produtos químicos para relaxar meu cabelo e possivelmente ser aceito dentro de um grupo que não compartilhava de semelhancas culturais.
Pouco a pouco, senti que estava perdendo a minha identidade, pois o cabelo negro é uma especie de coroa, e a minha, me parecia inexistente. Um dia, eu vi um bailarino com o seu cabelo estilo black, e outro com tranças, foi um momento mágico de identificacao e realização, e foi naquele momento que decidi não relaxar o meu cabelo ou deixar a minha identidade para continuar a minha carreira.
Hoje em dia, tendo essa representatividade em Seattle, eu me vejo em outros bailarinos negros, uns com o cabelo estilo black, e outros com tranças, e esses momentos tem sido especiais e importantes para me informar sobre o meu cabelo, sobre os estilos que mais destacará o meu próximo papel, e assim eu espero influenciar mais a cultura do balé, e incentivar a adotarem uma prática mais inclusiva para com a cultura negra/preta, e podemos sim mostrar a nossa beleza em um todo, e nao ter que nos adequar a uma só cultura" conta Jonathan.
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